‘Partido da Lava Jato’ cresce no Senado e pretende reproduzir dinâmica na Câmara

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Pedro França/Agência Senado

Senador Alvaro Dias, líder do Podemos no congresso.

Quando pensamos no crescimento de um partido político, ligamos ao número de eleitos na urna, ou ainda no número de filiados. No entanto, a lógica não representa a realidade do Podemos , partido que mais cresceu fora das urnas no Senado . Atualmente, a bancada que conta com 11 parlamentares, é a segunda maior da casa legislativa, ficando atrás apenas do MDB, que conta com 13. O figurino ” lavajatista ” do Podemos tem atraído parlamentares insatisfeitos de outras siglas. Para a líder do partido, deputada Renata Abreu (PODE-SP), as migrações mantém relação com as bandeiras de ‘nova política’ sustentadas pela legenda, como interatividade direta com o eleitor. 

A dança das cadeiras gerada pelas crises em partidos na era bolsonarista beneficiou a legenda, segundo a doutoranda em Ciências Políticas pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), Flávia Roberta Babireski. “Muitas justificativas caminham no sentido de falta de liberdade dentro do PSL. O convívio interno estava ficando problemático porque o partido passou a agir em função dos filhos de Bolsonaro ou dele próprio. As decisões não eram coletivas. E o Podemos ofereceu uma das principais soluções: liberdade. Para votar como quiser, sem controle. Tudo isso associado às pautas de renovação política, como a tentativa de acabar com a corrupção que envolvem a Lava Jato “, analisou. 

O Podemos se tornou o ‘partido da Lava Jato ‘ a partir dos investimentos de Alvaro Dias, segundo Babireski. “A localização geográfica do Alvaro e da Lava Jato no Paraná conseguiu fazer crescer esse sentido”. De acordo com o próprio senador, “a conduta da bancada que atua em vista do combate à corrupção tem sido razão de consenso que mostra o perfil a favor da Lava Jato”, fator que trouxe à tona uma roupagem ” lavajatista ” para legenda. 

Mais para Obama que para extrema-esquerda

Os senadores que migraram para o Podemos na atual legislatura são seis, entre os quais estão Eduardo Girão (CE), Selma Arruda (MT), Lasier Martins (RS), Marcos do Val (ES), José Reguffe (DF) e Styvenson Valentim (AC). Antes das eleições de 2018, migraram para a legenda o atual presidente da sigla no Senado, Alvaro Dias (PR), Elmano Férrer (CE), Romário (RJ) e Rose de Freitas (ES). O único senador eleito pelo partido é Oriovisto Guimarães (PR).

“Nessa legislatura houve uma grande mudança no parlamento. Entraram mais senadores que ingressaram sem lideranças políticas. O conceito de nova política reside aí. São formadores de opinião, pessoas preocupadas com o posicionamento e com grande perfil de independência que não querem ser reféns do governo, tão pouco pretendem figurar como oposição burra”, explica a presidente do partido Renata Abreu (PODE-SP). 

O Podemos surgiu com essa titulação em 2016 para substituir o então Partido Trabalhista Nacional (PTN). A troca foi baseada inspirada no mote “yes, we can” (sim, nós podemos), da campanha de Barack Obama à presidência dos Estados Unidos. A sigla, porém, ficou com o mesmo nome do partido de extrema-esquerda da Espanha, sem qualquer relação ideológica com a mesma A reaproximação da política com os interesses sociais que ocuparam as ruas do Brasil desde 2013 contra a corrupção deu rumo ao surgimento do Podemos . Segundo a nota emitida no dia de fundação do partido, a renovação da sigla seria uma aposta no resgate da renovação da democracia pela defesa da transparência, do aumento da participação popular e de ações de democracia direta.

No limite da lei

Na perspectiva do advogado eleitoral Carlos Gonçalves Junior, as mudanças que ocorrem no Senado não deveriam ser fluídas e facilitadas. O especialista aponta que a troca sem justa causa deveria equivaler a restituição de vaga. “Sair do partido depois da eleição deveria ser condenado como estelionato eleitoral. Isso porque, para se eleger, o político se beneficiou tanto do programa de governo registrado pelo partido que ele saiu como candidato, quanto dos recursos financeiros e tempo de televisão. Seria razoável ele mudar de partido e ter que devolver o espaço que ocupava”. A lei que vigora hoje permite, contudo, que a desfiliação de congressistas durante a legislatura não configure perda de mandato, segundo Gonçalves. 

A tendência é que a dinâmica de expansão que ocorreu no Senado seja reproduzida também na Câmara dos Deputados . Ao menos é isso o que assegura a presidente do partido, deputada Renata Abreu (PODE-SP). “Hoje eu já tenho sete deputados aguardando o período das janelas partidárias, em que é possível fazer a transição sem perder o mandato. O grupo que está  vindo é muito semelhante em relação aos posicionamentos do partido, por mais que venham de legendas distintas”, anuncia a líder, reforçando que o partido, apesar de nunca ter composto a base do governo, também não integra a ‘oposição burra’. Os nomes dos congressistas, no entanto, não foram revelados. “As tecnologias mudaram a forma de fazer política. Queremos dar voz às pessoas que vão protestar nas ruas. Queremos parlamentares que também se pautem assim”, reforça.

Segundo o líder do Podemos no Senado , Alvaro Dias (PODE-PR), ao mesmo tempo em que há procura de fora para dentro, há de dentro para fora por nomes expressivos. “Liderei pessoalmente a iniciativa de nos colocarmos como um partido que traz para dentro do Senado as demandas do lado de fora. Nós crescemos com qualidade. Não procuramos crescer a qualquer preço. Todo ingresso é selecionado. Queremos partido organizado que leve em conta a qualidade dos seus integrantes. E nossa prioridade é sustentar pautas que são demandadas pela população que vai para as ruas”. 

Empreendedores, empresários e profissionais liberais têm se filiado ao partido mesmo sem a pretensão de disputar, apenas para ajudar no crescimento, ainda de acordo com informações do senador. Em contraponto, os ingressantes têm demandado especificações ao partido. “Uma das exigências que fazem ao ingressar no Podemos é que o partido tenha um projeto nacional próprio. Que não fique a reboque de outras legendas. E a nossa independência tem sido um atrativo”, explica.


Partido fisiológico

A respeito da ausência de uma bandeira que ultrapasse a pauta da Lava Jato , a doutoranda em ciências políticas, Flávia Roberta Babireski, assegura que esse pode, na realidade, ser um nicho estratégico para a legenda. “O Podemos ensaia demandas ligadas à direita, ao mesmo tempo em que não assume esse posicionamento e flerta com a esquerda”. O partido, dessa maneira, conseguiria se moldar facilmente às pautas do governo federal ou simplesmente descartá-las, a medida dos interesses internos. “O cenário tem mudado, com contornos que apontam para uma posição de centro, mas o Podemos ainda pode ser considerado como um partido fisiológico que ‘dança’ conforme a melhor posição”. 

Ainda que o número de parlamentares do Podemos no Senado tenha multiplicado de forma expressiva nas últimas legislaturas, há quem diga que observar mais de perto das configurações é perda de tempo. “Como vai ser resolvido o embate entre Bivar e Bolsonaro, com a possibilidade de fracionamento para vários partidos é o que deve ser foco. O Podemos não deve ser pauta. O Podemos ainda não pode nada, na verdade”, defende o professor e coordenador do curso de Ciência Política da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Adriano Oliveira, quando questionado sobre a evolução do partido no Congresso .

Para o doutor em Ciência Política, o partido não tem atratividades demarcadas e atrai pessoas insatisfeitas. Mas sem um vetor claro que denuncie um padrão que possa justificar o crescimento significativo ao longo das legislaturas. “Especificamente em relação do Podemos há um processo forte de incógnita. Por enquanto, é irrelevante politicamente discutir a situação do sigla”, reforça. 

Na contramão do pensamento de Adriano Oliveira, Flávia Roberta Babireski se aproxima das previsões lançadas pela presidente do Podemos . “A dinâmica do Senado pode se repetir na Câmara. Assim como o PT que, em sua origem, teve desavenças que formaram o PSOL, políticos do PSB e PSL podem caminhar no mesmo sentido. É até complicado não aplicar a mesma lógica, porque a insatisfação está cada vez maior. E quem for esperto, vai captar essas pessoas”, finaliza.

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