Seria possível que, uma única pessoa, destruísse a internet em todo o planeta?
A humanidade se tornou tão dependente da internet que, quando vemos grupos ativistas ameaçando derrubar o mundo online ou “profetas do apocalipse” nos alertando sobre uma possível falha global na internet, ficamos, no mínimo, assustados.
Para saber se alguém poderia realmente acabar com a internet, site io9 foi atrás de um especialista: Dewayne Henricks, especialista em TI. Segundo ele, acabar com a internet é mais difícil do que pode parecer.
Dewayne é conhecido como “Caubói da Banda Larga” e já trabalhou com a AT&T, Cisco, WorldCom e Lucent, e hoje é CEO da Tetherless Access Inc. E ele avisa: a primeira coisa que devemos saber sobre a internet é que não existe “a” internet.
Simples, independente e distribuída
Segundo Dewayne, a internet nada mais é do que um grupo de computadores altamente distribuídos. “As pessoas tendem a pensar que a internet é uma coisa – e não é – é importante disseminar a ideia de que ela é formada por milhares de redes independentemente operadas e comandadas – redes que são ligadas por conexões físicas que usam um protocolo comum”, diz ele.
É esta qualidade que faz da internet uma ferramenta capaz de permanecer viva e ativa mesmo em circunstâncias extremas, mas também de se consertar sozinha e se adaptar sempre que for preciso. Logo, derrubar a internet implica em derrubar uma rede de redes.
Já tentaram especular sobre o que seria necessário para derrubar toda a internet. No começo deste ano, Sam Biddle, do site Gizmodo, tentou achar um meio de destruí-la, sugerindo que todos os cabos que a mantêm ativa fossem cortados.
Isso teria de ser acompanhado pela destruição de todos os servidores e os centros de dados. Se isso pudesse ser feito (e você já deve ter percebido o tamanho da dificuldade envolvida aqui), toda a informação digital ficaria presa e congeladas nos computadores, sem poder viajar de um para o outro.
“Nada pode ir a lugar nenhum, porque todas as estradas, pontes e semáforos estão em ruínas. Tudo o que sobrou na internet é a intranet do seu escritório ou a troca de arquivos no seu dormitório. As pequenas peças. Há redes, mas nenhuma delas está interligada a outra”, diz ele.
Só que Sam estava errado. Onde há pessoas, há uma internet, e ele não percebeu isto.
Contramedidas e adaptações
Distanciando-se um pouco dos cenários apocalípticos de Sam, podemos garantir que falhas e interrupções podem e irão acontecer. Elas acontecem o tempo todo, mas, cedo ou tarde, você consegue voltar a ficar online. O tempo todo, novas tecnologias são desenvolvidas para combater cortes cada vez maiores na internet. Mas essas tentativas são fúteis. “Há ataques o tempo todo, mas tudo o que precisa acontecer são contramedidas combinadas mutuamente”, diz Dewayne.
Por exemplo, há dois protocolos de internet, o IPv4 e o IPv6. Se um deles for derrubado, o outro servirá de backup. Além disso, qualquer um pode usar um servidor DNS e estabelecer um DNS para criar um banco de dados de URLs e IPs correspondentes.
Para Dewayne, ajustes em configurações mudam roteadores, o uso de servidores alternativos e outras adaptações tornam coisas como o DOS (negação de serviço, na sigla em inglês) e outros ataques cibernéticos, problemas temporários. Dewayne usa um exemplo muito real: A Darknet. Uma rede privada distribuída em peer-to-peer que enganou autoridades policiais que estavam tentando criar tecnologias para derrubá-la. A Darknet usa protocolos e pórticos fora dos padrões, tornando-a, até hoje, vulnerável, um status atingido com a ajuda de técnicas anônimas de roteamento.
Outro exemplo é a China, onde o governo tenta bloquear grandes porções da internet, sem muito sucesso. “Há algumas pessoas com habilidades técnicas para contornar as medidas de bloqueios deles”, diz Dewayne.
É como lutar contra o Borg
“A internet funciona como o Borg, da série Jornada nas Estrelas – é basicamente um tipo de rede de mentes ligadas telepaticamente”, diz ele. Segundo ele, lutar contra a internet é como lutar contra o Borg, que é um sistema distribuído em massa, descentralizado e redundante – como a internet, que, por ser essencial para muitos, tem sua existência protegida pelas constantes tecnologias criadas para consertar suas falhas.
Comunicações ad hoc
A habilidade de manter o acesso à internet funcionando consiste em manter conexões. Por mais que tudo se resuma a destruir cabos e servidores, as pessoas sempre terão como reestabelecer as conexões. Se houver uma catástrofe que destrua a infraestrutura TI, sempre haverá um grupo que arranjará um meio para trazê-la de volta à ativa por meio de comunicações ad hoc – um termo em latim que significa “para isto” e que quer dizer basicamente projetar ciclos de software cuja demanda surgir após o planejamento original.
Um exemplo são os satélites de comunicações que perambulam pela atmosfera terrestre. Eles alocam uma porção da largura da banda do tráfico IP regular, e eles poderiam estabelecer conexões entre dispositivos sem fio ou outro terminal com acesso a fibras óticas.
E se esses satélites também fossem derrubados também? É uma possibilidade ainda mais remota, considerando que, para isso, seriam necessárias manobras militares. Caso isso acontecesse, ainda assim a internet poderia ser salva por meio de pacotes de rádio, que seriam transmitidos por meio de rádio ou ligações sem fio. Se pessoas o suficiente tivessem acesso a dispositivos assim, e cada um deles estivesse conectado a pelo menos um outro, então lá estaria, novamente, a internet.
É claro que, neste cenário improvável, nós não teríamos uma internet como hoje, mas apenas algo que conecta as pessoas. Logo, essas redes cresceriam conforme se ligassem a outras redes em recuperação.
A internet é, basicamente, as pessoas
Dois exemplos de como a internet pode se recuperar rapidamente são a Nova Orleans pós-Katrina e o Egito pós-levantes populares. Nas duas ocasiões, a internet sofreu interrupções, mas logo estava funcionando. Tudo por causa de pessoas que trabalharam o mais rápido possível para trazê-la de volta. São como formigas que têm seu formigueiro destruído: em pouco tempo, elas conseguem reerguê-lo.
Uma última e catastrófica possibilidade que foi levantada a Dewayne: um impulso eletromagnético (EPM, na sigla em inglês) gigantesco que atingisse todo o planeta e derrubasse todos os equipamentos eletrônicos de uma vez só – algo que pode acontecer tanto por ação humana quanto por uma forte tempestade solar.
“Nenhum EPM global conseguiria atingir o planeta inteiro. A internet sobreviverá até a EPMs locais”, disse Dewayne. A internet voltaria a funcionar assim que os locais online enviassem suplementos para os locais afetados, reestabelecendo a conexão.
Para finalizar, Dewayne afirmou: “A internet não é apenas tecnologia, ela é as pessoas. – você pode confiar nas pessoas, elas são resilientes. Veja o que elas fazem em emergências – nós sempre respondemos a um chamado maior. O único meio de derrubar a internet e se livrar de todas as pessoas do mundo”.
Reportagem: http://www.jornalciencia.com/tecnologia/diversos/2228-seria-possivel-que-uma-unica-pessoa-destruisse-a-internet-do-mundo
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