Municípios do PA, do RJ e de SC recebem prêmio na área da saúde
O Ministério da Saúde e a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) premiaram hoje (29) três iniciativas criativas que, apesar da limitação de recursos, conseguiram fortalecer a atenção primária e melhorar o atendimento ao cidadão que busca o Sistema Único de Saúde (SUS). Das 1.239 experiências enviadas de todas unidades da Federação para concorrer ao prêmio APS Forte: Acesso Universal, 135 foram recomendadas por técnicos. Destas, 11 foram selecionadas como finalistas; e três foram premiadas.
Os vencedores foram programas implementados em Abaetetuba (PA); na Comunidade do Salgueiro, na cidade do Rio de Janeiro (RJ); e em Jaraguá do Sul (SC). Um dos jurados que definiram os projetos vencedores foi a jornalista Mara Régia de Perna, da Radio Nacional da Amazônia.
“Fiquei absolutamente sensibilizada. Primeiro pela oportunidade de fazer uma viagem através do SUS que dá certo. É tão bom a gente ver gente empreendedora, fazendo e transformando. Esse prêmio consagra justamente essas experiências”, disse a jornalista. “Tive uma grata satisfação com [o resultado, que premiou] a Menina do Laço, de Abaetetuba, por proteger e apoiar as meninas nessa região que têm uma alta incidência de gravidez precoce. Quando você vê o trabalho desses agentes em barcos, em uma região onde a logística é tão difícil e desafiadora, você aplaude de pé porque este é um Brasil que dá certo”.
Em depoimento por vídeo, o médico oncologista Dráuzio Varella, que também foi jurado do prêmio, se disse “surpreso com a qualidade dos projetos” que chegaram às suas mãos. O representante da Opas no evento, Renato Tasca, disse que a boa qualidade dos projetos têm como protagonistas servidores públicos que nem sempre recebem o merecido reconhecimento.
“O servidor público tem sido cada vez mais penalizado nos últimos anos. Esse prêmio me permitiu ver as injustiças que são feitas contra os servidores públicos [no Brasil]”, disse o representante pouco antes de anunciar os vencedores.
Abaetetuba
Intitulado Menina do Laço de Fita, o projeto de Abaetetuba tem “a ternura como essência, a luta como princípio e o empoderamento como estratégia para a cidadania”. Seu sucesso tem como ponto de partida a qualificação de profissionais da saúde “para um serviço ético, solidário e humano”.
“Fizemos diagnósticos para verificar nossos focos de enfrentamento e identificamos que muitas adolescentes estavam engravidando precocemente, causando uma série de transtornos em função da falta de orientação e acompanhamento. Isso tudo porque não havia uma integração das áreas de saúde, educação e assistência. Basicamente o que fizemos foi otimizar o que tínhamos. O resultado foi uma política preventiva que é mais eficaz e barata”, disse o prefeito de Abaetetuba, Alcides Negrão, após participar da premiação.
Para o prefeito, a política ganha um raio de ação maior quando o servidor começa a ter sentimento de poder. Ele disse que isso muda a vida da pessoa. “Quando o servidor abraça a responsabilidade, a eficiência se faz presente. Por isso, orientamos os servidores de forma a tocá-los para interagir com a comunidade e para se fazerem presente”.
Jaraguá do Sul
O projeto de Jaraguá do Sul usou as redes sociais e rádios locais para valorizar, junto à população, o trabalho dos enfermeiros nos postos de saúde durante o processo de acolhimento e a primeira consulta. Por meio dele foi possível zerar as filas na atenção primária em saúde.
“A fila para consultas era enorme. Basicamente implementamos ações visando valorizar os enfermeiros. Saímos da cultura de que só o médico teria a solução, para conscientizar a população a aceitar o enfermeiro para algumas situações envolvendo exames e medicamentos”, disse o secretário de Saúde, Alceu Moretti.
Rio de Janeiro
O terceiro projeto premiado – desenvolvido por meio de uma parceria entre a secretaria municipal de Saúde Pública e a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) – foi implementado na Comunidade do Salgueiro, tendo como desafio implementar ações de promoção da saúde no cenário escolar.
O projeto tem como foco crianças com maior dificuldade de atenção e de aprendizagem. Por meio de atividades lúdicas, o programa busca conhecer o comportamento e os interesses dessas crianças, de forma a aprimorar os cuidados dirigidos a elas. O resultado foi “uma melhora sensível” no comportamento delas.
“Nós primeiro identificamos as crianças em situação de vulnerabilidade e, por meio de um trabalho envolvendo a família, interferimos no comportamento. O trabalho mostrou-se mais eficiente do que a preparação de diagnósticos, que acabam por estigmatizar e, em alguns casos, medicar [indevidamente] as crianças”, explicou o médico de família e comunidade do projeto-piloto, Daniel Trindade.
Segundo a médica de família e comunidade Victória Mey, também ligada ao programa na Comunidade do Salgueiro, a falta de conhecimento dos profissionais de educação para lidar com casos complexos acabava remetendo os alunos a neurologistas, psicólogos e fonoaudiólogos. “Esses profissionais não viam o cenário e os elementos que previamente influenciaram no comportamento da criança”.
Multiplicar as experiências
De acordo com o secretário de Atenção Primária do Ministério da Saúde do Ministério da Saúde, Erno Harzheim, o prêmio tem a importância de reconhecer os feitos e as realizações que causam impacto na vida das pessoas. “Agora, vamos levar essas experiências a outras cidades brasileiras, divulgá-las e dar reconhecimento, para que a experiência seja repassada e tenhamos mais boas práticas difundidas no Brasil”, disse o secretário.
Os vencedores ganharam uma viagem de trabalho com destino à Escola de Saúde de Andaluzia, em Granada (Espanha). “Essa escola tem um trabalho muito importante para fortalecer atributos da atenção primária, do ponto de vista de acesso, coordenação, continuidade e integralidade”, disse o representante do ministério.
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