Bastidores de uma queda: vestiário do Inter tem silêncio, abatimento e adeus
A reação é instantânea, quase premeditada, após 38 tortuosas rodadas. O apito final do árbitro Héber Roberto Lopes põe fim a uma temporada tenebrosa para o Inter e decreta o primeiro rebaixamento da história do clube. Logo faz os jogadores desabarem dentro de campo para imergir em um clima de abatimento pleno que povoou o ambiente do vestiário, entre lágrimas, após o empate em 1 a 1 com o Fluminense em Edson Passos, no domingo, 11 de dezembro de 2016. Uma data para o Colorado jamais esquecer.
A queda deixa uma mácula inédita e profunda na história centenária do Inter. Ao passo que os dirigentes, representados pelo presidente Vitorio Piffero e pelo vice de futebol Fernando Carvalho, tomaram as rédeas para explicar o vexame, os atletas foram contaminados por um clima de abatimento e por uma certeza: seria impossível tentar explicar o inexplicável. Com portas cerradas, o vestiário permaneceu em silêncio. De fato, as palavras surtiriam efeito quase nulo, e pouco foi falado na área interna. Assim como no trajeto até o ônibus.
Um a um, os jogadores transitaram pelo corredor cabisbaixos, com abalo nítido em seus semblantes, em meio a um clima de fim de festa e desolação. Muitos deles, inclusive, deixaram o vestiário com trajes de passeio, sem as cores do clube, para rumar às férias.
– É muito difícil. São jovens. Ficaram muito abatidos. Temos que ter essa compreensão. Nós costumamos não responsabilizar os jogadores. As palavras são nesse sentido. Não vai acabar a carreira de ninguém. É momento de amargor. Pode resultar num crescimento. Isso vai redundar para os jogadores num motivo de crescimento – afirmou o vice de futebol Fernando Carvalho.
De cara fechada, a maioria dos atletas passou sem falar com a imprensa – até mesmo líderes do elenco, como Paulão e Ceará, não concederam entrevista. Os poucos que teceram algumas palavras – Alex, Anderson, Valdívia e Ernando – tinham dificuldades em explicar o rendimento da temporada. Limitavam-se a pedir desculpas ao torcedor. O trajeto curto, de pouco mais de 15 metros, entre o estádio e o ônibus, foi percorrido sob chuva e denotou claramente o ânimo dos colorados com a queda.
– Foi o ano mais terrível da minha vida profissional, mas tem que ter um pouco de hombridade para retornar e colocar o Inter na primeira divisão – ressaltou Alex.
Vitinho foi um dos primeiros a sair e aproveitou o momento para se despedir, com olhos marejados, de companheiros, integrantes da comissão técnica e funcionários do clube. O auxiliar Odair Hellmann foi um dos que deu um longo abraço no atacante. Anderson, por sua vez, deixou a porta do vestiário e errou o breve caminho até o ônibus, tendo de dar a volta para ingressar no veículo. Valdívia passou com uma proteção na perna, imobilizada, após falta cometida por Wellington Silva, no segundo tempo, que o tirou da partida.
O estádio acanhado do América-RJ, em Mesquita, serviu de palco perfeito para o desfecho de uma temporada com efeitos severos à história do clube. A delegação deixou o local, acostumado a receber jogos da segunda divisão carioca, sob chuva que castigava o solo já enlameado.
O calvário não cessou em Mesquita. Após deixar o Giulite Coutinho, o ônibus do Inter rumou ao aeroporto, para um retorno direto a Porto Alegre de boa parte da delegação. Mas não de sua totalidade. De férias, alguns atletas optaram por seguir viagem a outros destinos. O técnico Lisca, por exemplo, retornou ao hotel, onde foi saudado por alguns torcedores com votos de carinho.
Ainda no saguão, Paulão esperava a condução para rumar à terra natal, Salvador, mas optou por aguardar em um local mais reservado, sem acesso da torcida. Deixou o local sob escolta de dois seguranças, enquanto um torcedor mais exaltado o xingava, entre palavrões, em um momento de tensão.
O Inter encerrou o Brasileirão na 17ª colocação, com 43 pontos. Amarga, assim o rebaixamento à Série B e já começa a forjar o futuro. Enquanto os atletas desfrutam das férias para recarregar as energias para o próximo ano, a nova gestão irá assumir, com Marcelo Medeiros como presidente e Antônio Carlos Zago para comandar a equipe na segunda divisão.
Reportagem Original:
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